terça-feira, dezembro 20, 2011

Doces estragos

“O que é isso?” “É uma estriazinha, nada de mais.” Nada de mais. Só a terrível, a abominável, a mais que temida estria


Por Denise Fraga - Fonte revista Crescer

Estava deitada de chamego com o pequeno Pedro. “Mamãe, por que o seu umbigo não é fundo?” “O meu umbigo não é fundo, Pedro, porque eu já tive dois menininhos crescendo dentro da minha barriga, que acabaram empurrando ele pra fora.” Pedro é o Rei da Compaixão e, passado um tempinho, veio com a pergunta-pérola. “Bebê sente pena?” Enchi meu príncipe de beijos. “Não, Pedrucho, nem precisa. Bebê precisa se concentrar em crescer, simplesmente.” É muito pequenininho pra se preocupar com o umbigo da mãe ou outro estrago que possa fazer na criatura, mesmo porque, diante da carinha linda dele, ela nem se lembrará de uma eventual estria ou peito caído.
E é verdade, eu nem me lembro mais. Meu peito voltou pro lugar e quando olho minha barriga no espelho, não fosse pelo umbigo raso, mal poderia acreditar que já foi daquele tamanhão. Tudo bem que ando me esforçando em caminhadas, yoga e Pilates, mas todo aquele desespero de ver meu corpo se transformando tão rapidamente até que deixou poucas sequelas. Tenho uma única estriazinha reminiscente que me apareceu bem no final da segunda gravidez. Tive vergonha de perguntar pro médico se aquilo era mesmo o que eu estava pensando, mas, no fim da consulta, com uma voz fininha, como quem não quer nada, arrisquei: “O que é isso?” “É uma estriazinha, nada de mais.” Nada de mais. Só a terrível, a abominável, a mais que temida estria. Só. Tive um pouco de vontade de chorar, mas fiquei com vergonha de tal futilidade diante do milagre que era o meu barrigão. Fiquei regulando os milímetros da pequena estria durante todo o último mês e por muito tempo ainda olhei pra ela ressabiada. Mas agora está esquecida. Pelo tempo e pela ordem de importância das coisas.
Quando você recebe a notícia de que está grávida, é tomada por um estado especial, mesmo que, fisicamente, não sinta diferença alguma. Não está exatamente morrendo de sono, mas já se dá o direito de dar umas cochiladinhas no carro. Está grávida. Pode. Qualquer sensação de indigestão já é o tal do enjoo. No meu caso, não tinha mesmo outro nome, pois logo tive enjoos fortes e poderosos, que duraram até o quarto mês. Ouvia: “Gravidez não é doença”, mas eu me sentia doente. Feliz e doente. Adoro comer, e era só colocar a primeira colherada na boca pro estômago começar a centrifugar. Segurava o que podia e lá ia eu conhecer o banheiro mais próximo.
Na verdade, acho que envolvemos nossa gravidez de romantismo e, quando vamos relatá-la a alguém, valorizamos sempre o lado espiritual, o milagre que realmente é carregar um serzinho crescente, a sensação de estar acima de todas as coisas, porque você agora é fêmea parideira, progenitora, provedora, criadora de gente, deusa que faz caminhar a humanidade e aí, realmente, sendo tudo isso, não vai ficar falando de vômitos, estrias, espinhas, manchas no rosto, peito caído, falta de libido, queda de cabelo, dores no ciático ou hemorroidas. Ih, falei! Mas não se assustem, queridas leitoras de barrigas crescentes, tudo isso passa e seu corpo volta ao normal numa velocidade impressionante, banhado de novos hormônios, cheio de sabedoria e com o brinde da maior de todas as felicidades – seus pequenos.








Denise Fraga é atriz, apresenta quadros no Fantástico, casada com o diretor Luiz Villaça e mãe de Nino, 11 anos, e Pedro, 9

Um comentário:

  1. Esse texto é demais!! recomendo para todas as gravidinhas! e quem mais quiser!

    bjs

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